segunda-feira, 13 de março de 2017

Ler jornais já não é saber mais (9): Jornalismo, alegadamente...



Repare-se no texto: "(...) depois de terem sido divulgadas (...) duas reportagens polémicas (...) que diziam que, alegadamente, as editoras oferecem 'brindes' aos professores"; "no caso da RTP foi dito que as editoras, alegadamente, oferecem 'brindes' (...)".
O "alegadamente" é uma epidemia do neojornalismo português. Suponho que há de ter sido importado do inglês "allegedly", que serve, de modo expedito, para afirmar algo para o qual não existe prova fiável.
O seu significado, no entanto, perde-se na imbecilidade praticante que se vai impondo, chegando-se ao ponto, na televisão, de se imputar o "alegado crime" ao homicida que, entregando-se às autoridades, até já confessou o crime.
Neste caso temos mais um brilhante disparate e em dose dupla. A afirmação de base (oferta de "brindes" a professores por editoras de livros escolares) é atribuída, expressamente, a duas televisões: RTP e TVI. O que mostraram, nas reportagens apresentadas, é da sua responsabilidade. Mas, aparentemente, não é o que pensa a criatura que escreveu esta prosa no "Sol". Onde, como se pode ler, se põem as reportagens a "dizer que" quando, para bem da economia narrativa e da língua, chegaria dizer "segundo a reportagem".
No caso do "alegadamente" em dose dupla, a confusão é tal que nem se percebe para onde vai o "alegadamente" (as reportagens? quem efectivamente disse? os canais?) e a impressão que resta é que o palavrão ficou porque é da moda, muito "fresco" e tal.
Isto, como tantas outras coisa nesta era de degradação absoluta do jornalismo, não passa de alegado jornalismo...

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